VINHO NOVO, VELHOS ODRES - 5º Estudo - Categoria: Teologia

20-02-2012 00:00

 

Como muitos outros brasileiros, passei os últimos dias tentando  decifrar a mensagem das urnas. É preciso distinguir a lógica contida, por exemplo, no impressionante recorde de votos do Prona; na derrota política de figuras históricas, como Brizola, Quércia, Collor e Neswton Cardoso; ou mesmo na eleição maciça de evangélicos a cargos no Executivo e no Legislativo (são 60 só no Congresso Nacional). Depois de pensar bastante, uma passagem bíblica ajudou-me a entender.                                                                                                                  

            A lógica que alinhava tudo isso está no fim do capítulo 5 de Lucas: a sociedade não suporta mais as estruturas políticas ultrapassadas (os odres velhos) mas já perceberam que uma reforma ética só pode acontecer com a entrada do vinho novo. O que a nova geração de deputados e senadores encontrará no Congresso Nacional é uma estrutura velha, viciada, repisada, que mal se sustenta nos velhos discursos.

            Perdoem o trocadilho, mas o povo já está de odre cheio da velha política, do toma-lá-dá-cá, da troca de favores por interesses corporativos e por aí afora. E para ajudar a virar esta página, os parlamentares evangélicos eleitos precisarão de alguma coisa além de seu voluntarismo. É de esquecer diferenças partidárias e denominacionais em nome de uma agenda comum de combate à miséria, assumindo uma nova postura ética e de efetiva transformação social. Repare que o grande desafio não é o de reformar a instituição, mas agregar a ela nossos valores. Os mecanismos da política, por si, existem para fazer a democracia funcionar. A autonomia dos três poderes, as instâncias de decisão, tudo está em seu devido lugar. O problema está na maneira como estes mecanismos são usados.

            O mesmo bisturi que extirpa um câncer pode ser usado para tirar uma vida. É isto que explica por que alguns estados e cidades prosperam sob a gestão de pessoas competentes e honestas, enquanto outros sofrem nas mãos de gente que passa por cima do interesse do povo. Não basta não roubar, nem basta só fazer. É preciso fazer e não roubar. Se o problema não é da estrutura, o principal papel dos políticos e agora vou me ater especificamente aos que possuem os valores do Reino será o de influenciá-la com novas práticas, com um novo modelo que inclua um compromisso ético e um engajamento social de fato. Apesar do que muitos apregoam por aí, os evangélicos não precisam entrar na política para adaptar o odre velho a suas necessidades ou seus interesses. Já tem muita gente fazendo (e sendo criticada) por isto. Pelo contrário: nosso dever, como cristãos, é encher as casas legislativas e os palacios de governo com o vinho novo da justiça social, da retidão de caráter, até transbordar.                                                                                                            

            Estamos prontos para responder à altura tamanha responsabilidade? Seremos capazes de mudar os paradigmas da política ou nosso vinho novo será desperdiçado nos odres velhos Lc 5.37?

Minha oração é a de que os ouvidos das centenas de parlamentares evangélicos escolhidos para nos representar estejam abertos à voz das urnas. Esta esperança me anima a encerrar este texto com a passagem bíblica de Tt 2.14, na qual Paulo mostra nosso papel neste mundo, como filhos de Deus: Um povo... Que se dedica a fazer o bem. Assim seja.